Quando o inglês Thomas DeQuincey publicou, no início do século XIX, o romance “Do Assassinato como Uma das Belas Artes”, ninguém o levou a sério. Naquela época, um ensaio filosófico que dava ao ato de matar um ser humano o status de arte provocava gargalhadas. Quase duzentos anos depois, no entanto, ninguém ri de uma afirmação desse tipo. É o caso do detetive Tom Welles, personagem de Nicolas Cage em “Oito Milímetros”, filme de Joel Schumacher. Na trama, Welles é encarregado de investigar um filme que mostra o assassinato real de uma mulher. O filme seria o primeiro exemplar de um aterrador subgênero do cinema mantido até hoje nos subterrâneos das grandes cidades: os snuff movies, ou filmes que mostram homicídios verdadeiros.
A investigação de Welles no filme de Joel Schumacher é, na verdade, uma personificação de uma busca que já dura pelo menos 24 anos. Data de 1975 a primeira investigação oficial em busca de filmes snuff. Durante cinco meses, o FBI e a Polícia de Nova Iorque investigaram as denúncias do presidente de uma associação chamada Cidadãos pela Decência Através da Lei (Citizen for Decency Through Law). Raymond Gauer garantia que, apesar de não ter visto nenhum filme, tinha indícios concretos da existência de uma rede de distribuidores que espalhavam essas fitas nos EUA.
Nessa época, começava uma verdadeira caçada. O FBI investigaria a existência dos snuffs em várias ocasiões, sempre com resultados negativos, enquanto os rumores se espalhavam. Já em 1976, policiais que haviam participado das primeiras investigações diziam ao New York Post que estavam convencidos da existência de filmes mostrando imigrantes mexicanos sendo mortos. Os agentes diziam que era quase impossível prová-lo, porque a indústria dos snuffs seria controlada pela máfia.
Em apenas uma ocasião o FBI chegou perto de comprovar a existência de um filme desse tipo. Em 1986, em Albuquerque (EUA), um comerciante chamado John Zinn contratou três homens para raptar uma mulher e fazer um snuff. Os assassinos acabaram presos, mas haviam desistido de filmar a morte da estudante Linda Daniels por causa da repercussão do seqüestro.
Fora do círculo policial, os indícios da existência dos snuffs são raros. Em 1994, o jornalista Rider McDowall, do San Francisco Chronicle, passou seis meses tentando encontrar um filme snuff. Para isso, entrevistou policiais, agentes do FBI, donos de motéis, produtores de filmes pornô, proprietários de sex shops. Não encontrou nada. “Vi vários filmes e achei que estava assistindo a crimes autênticos, mas nenhum resistiu a uma análise de especialistas. Tudo era truque”, escreveu.
Já o psicólogo Ted McIlvanna, presidente do Instituto for Advanced Study for Human Sexuality, vai mais longe. Depois de 25 anos de pesquisas, ele reuniu 289 filmes de sexo e mais de 100 mil vídeos, mas nunca chegou a um snuff. “Vi apenas três mortes: dois acidentes e uma cerimônia no Marrocos onde um garoto doente era sacrificado”, explica.
Já outros conhecedores do tema garantem que os snuffs existem. O diretor underground Joe Christ, 41 anos, autor de vários filmes em Super 8, tem uma teoria. “No início era um mito, mas a controvérsia e o interesse foram tão grandes que criaram um mercado consumidor. No mundo em que vivemos, sempre que há procura, há oferta”, analisa. Ele garante que já viu um snuff verdadeiro em 1982, em Dallas (EUA).
A boataria envolvendo os snuffs é rica em histórias. Mesmo assim, os únicos filmes descobertos até hoje mostram cenas de assassinatos de animais. Em 1998, a polícia escocesa confiscou nove filmes que mostravam mulheres seminuas matando sapos e ratos. Os distribuidores dos vídeos foram presos e confessaram que os filmes circulavam na Inglaterra desde 1996.
Já os snuffs que mostrariam assassinatos de seres humanos – pelo menos por enquanto – ainda não passam de lenda. Foram agentes do FBI os primeiros a repassar informações para jornais como Los Angeles Times, USA Todas, Chicago Tribune e San Francisco Chronicle.
Nessa época, começava uma verdadeira caçada. O FBI investigaria a existência dos snuffs em várias ocasiões, sempre com resultados negativos, enquanto os rumores se espalhavam. Já em 1976, policiais que haviam participado das primeiras investigações diziam ao New York Post que estavam convencidos da existência de filmes mostrando imigrantes mexicanos sendo mortos. Os agentes diziam que era quase impossível prová-lo, porque a indústria dos snuffs seria controlada pela máfia.
Em apenas uma ocasião o FBI chegou perto de comprovar a existência de um filme desse tipo. Em 1986, em Albuquerque (EUA), um comerciante chamado John Zinn contratou três homens para raptar uma mulher e fazer um snuff. Os assassinos acabaram presos, mas haviam desistido de filmar a morte da estudante Linda Daniels por causa da repercussão do seqüestro.
Fora do círculo policial, os indícios da existência dos snuffs são raros. Em 1994, o jornalista Rider McDowall, do San Francisco Chronicle, passou seis meses tentando encontrar um filme snuff. Para isso, entrevistou policiais, agentes do FBI, donos de motéis, produtores de filmes pornô, proprietários de sex shops. Não encontrou nada. “Vi vários filmes e achei que estava assistindo a crimes autênticos, mas nenhum resistiu a uma análise de especialistas. Tudo era truque”, escreveu.
Já o psicólogo Ted McIlvanna, presidente do Instituto for Advanced Study for Human Sexuality, vai mais longe. Depois de 25 anos de pesquisas, ele reuniu 289 filmes de sexo e mais de 100 mil vídeos, mas nunca chegou a um snuff. “Vi apenas três mortes: dois acidentes e uma cerimônia no Marrocos onde um garoto doente era sacrificado”, explica.
Já outros conhecedores do tema garantem que os snuffs existem. O diretor underground Joe Christ, 41 anos, autor de vários filmes em Super 8, tem uma teoria. “No início era um mito, mas a controvérsia e o interesse foram tão grandes que criaram um mercado consumidor. No mundo em que vivemos, sempre que há procura, há oferta”, analisa. Ele garante que já viu um snuff verdadeiro em 1982, em Dallas (EUA).
A boataria envolvendo os snuffs é rica em histórias. Mesmo assim, os únicos filmes descobertos até hoje mostram cenas de assassinatos de animais. Em 1998, a polícia escocesa confiscou nove filmes que mostravam mulheres seminuas matando sapos e ratos. Os distribuidores dos vídeos foram presos e confessaram que os filmes circulavam na Inglaterra desde 1996.
Já os snuffs que mostrariam assassinatos de seres humanos – pelo menos por enquanto – ainda não passam de lenda. Foram agentes do FBI os primeiros a repassar informações para jornais como Los Angeles Times, USA Todas, Chicago Tribune e San Francisco Chronicle.
Segundo a pesquisadora americana Barbara Mikkelson, o termo snuff apareceu em 1970, numa entrevista com um membro anônimo da Família Manson, os psicopatas que assassinaram a atriz Sharon Tate. Na entrevista, o rapaz se referia assim a um vídeo que mostrava uma mulher sendo decapitada.
Depois das primeiras investigações, os boatos começaram a surgir. Segundo eles, boa parte dos filmes snuff seria produzida na América do Sul – especialmente na Colômbia, onde a máfia da cocaína manteria esquadrões para exterminar viciados e ladrões, que atrapalhariam o comércio da coca. Filmar os crimes seria apenas uma maneira de ganhar dinheiro extra.
Já a exibição dos filmes é um processo mais complicado. Para ver um snuff, só em grandes cidades, como Nova Iorque, Amsterdã e Tóquio. Na Tailândia, há informes sobre bares underground onde seriam exibidos.
Fala-se que em São Paulo é possível ver um snuff por R$ 100. Mas nada foi provado. Até hoje.
Desde 1975, o debate sobre a existência dos snuff vem rendendo muitos filmes em Hollywood. O primeiro a explorar o tema, na verdade, surgiu no rastro da polêmica aberta em 1975 sobre a existência da indústria clandestina dos assassinatos no cinema: “Snuff!” era um filme B, produzido na Argentina, no início da década, sobre uma gangue de motoqueiros assassinos. O filme foi investigado pelo FBI. A partir dele, vieram muitos. Nos anos 80, no auge da pasteurização sobre o tema, até mesmo a série de TV Miami Vice teve um episódio dedicado ao assunto.
Os principais nomes, no entanto, surgiram há poucos anos. Primeiro foi “Testemunha Muda” (Mude Witness, 1994, EUA), do diretor Anthony Waller. Nele, uma maquiadora de cinema muda fica presa num galpão e, acidentalmente, acaba testemunhando a filmagem de um snuff. Ela é perseguida pelos assassinos, pertencentes à máfia russa dos anos 40 (curiosamente, os russos são realmente acusados de terem sido pioneiros na produção dos snuff movies).
Depois, surgiu o assustador “Morte ao Vivo” (Tesis, 1996, Espanha), de Alejandro Amenábar. No enredo, uma garota que pesquisa para uma tese sobre violência no cinema acaba descobrindo acidentalmente uma quadrilha que produz filmes snuff dentro da universidade onde estuda. “O Bravo” (The Brave, 1997, EUA), de Johnny Depp, toca numa faceta mais humana: um índio pobre aceita receber US$ 50 mil, que doa à família, para protagonizar (e, claro, morrer de verdade) um filme snuff.
Já a literatura sobre snuffs não é tão rica. Somente dois livros – ambos lançados apenas nos EUA e atualmente fora de catálogo – abordam o tema com seriedade. O primeiro, “Killing For Culture”, de David Kerekes e David Slater, é mais sério. Tenta analisar a histeria das lendas sobre os snuffs sob um ponto de vista sociológico. Traça um longo painel dos filmes que mostram violência real, entre eles a polêmica coleção “Faces da Morte”, coletâneas de seis filmes que mostram cenas dantescas de execuções, acidentes e autópsias. A última edição chegou às livrarias gringas em janeiro de 1996.
O segundo livro é mais recente: surgiu em 1997, a partir de uma investigação feita pelo ex-militar israelense Jaron Svoray. O livro conta, detalhadamente, a peregrinação de Svoray por cidades como Los Angeles e Nova Iorque (EUA), Londres (Inglaterra), Amsterdã (Holanda), Paris (França), Belgrado (Iugoslávia) e Bangkok (Tailândia). O objetivo dele era encontrar um filme snuff e provar a existência de uma rede mundial de distribuição desses filmes.
Svoray consegue revelações chocantes. Em Nova Iorque, ele diz que viu – em vídeo – uma mulher ser morta a facadas após fazer sexo com dois homens. Paga US$ 1,5 mil pelo privilégio, numa sessão junto a vários homens bem vestidos, mas sai sem cópia alguma do vídeo. Em Paris, noutra reunião parecida de tarados, um comerciante lhe oferece um snuff por R$ 50 mil.
Na Iugoslávia, Svoray descobre que há produtores que filmam as atrocidades cometidas pelos soldados para vendê-las. Consegue um vídeo que mostra dois soldados matando uma mulher a facadas, mas acaba tendo o vídeo confiscado numa blitz. Svoray termina as buscas sem ter em mãos uma cópia sequer de um filme snuff – ou seja, apesar das histórias, ele nunca termina com uma prova real daquilo que está contando. “Gods of Death” também está esgotado.
Os principais nomes, no entanto, surgiram há poucos anos. Primeiro foi “Testemunha Muda” (Mude Witness, 1994, EUA), do diretor Anthony Waller. Nele, uma maquiadora de cinema muda fica presa num galpão e, acidentalmente, acaba testemunhando a filmagem de um snuff. Ela é perseguida pelos assassinos, pertencentes à máfia russa dos anos 40 (curiosamente, os russos são realmente acusados de terem sido pioneiros na produção dos snuff movies).
Depois, surgiu o assustador “Morte ao Vivo” (Tesis, 1996, Espanha), de Alejandro Amenábar. No enredo, uma garota que pesquisa para uma tese sobre violência no cinema acaba descobrindo acidentalmente uma quadrilha que produz filmes snuff dentro da universidade onde estuda. “O Bravo” (The Brave, 1997, EUA), de Johnny Depp, toca numa faceta mais humana: um índio pobre aceita receber US$ 50 mil, que doa à família, para protagonizar (e, claro, morrer de verdade) um filme snuff.
Já a literatura sobre snuffs não é tão rica. Somente dois livros – ambos lançados apenas nos EUA e atualmente fora de catálogo – abordam o tema com seriedade. O primeiro, “Killing For Culture”, de David Kerekes e David Slater, é mais sério. Tenta analisar a histeria das lendas sobre os snuffs sob um ponto de vista sociológico. Traça um longo painel dos filmes que mostram violência real, entre eles a polêmica coleção “Faces da Morte”, coletâneas de seis filmes que mostram cenas dantescas de execuções, acidentes e autópsias. A última edição chegou às livrarias gringas em janeiro de 1996.
O segundo livro é mais recente: surgiu em 1997, a partir de uma investigação feita pelo ex-militar israelense Jaron Svoray. O livro conta, detalhadamente, a peregrinação de Svoray por cidades como Los Angeles e Nova Iorque (EUA), Londres (Inglaterra), Amsterdã (Holanda), Paris (França), Belgrado (Iugoslávia) e Bangkok (Tailândia). O objetivo dele era encontrar um filme snuff e provar a existência de uma rede mundial de distribuição desses filmes.
Svoray consegue revelações chocantes. Em Nova Iorque, ele diz que viu – em vídeo – uma mulher ser morta a facadas após fazer sexo com dois homens. Paga US$ 1,5 mil pelo privilégio, numa sessão junto a vários homens bem vestidos, mas sai sem cópia alguma do vídeo. Em Paris, noutra reunião parecida de tarados, um comerciante lhe oferece um snuff por R$ 50 mil.
Na Iugoslávia, Svoray descobre que há produtores que filmam as atrocidades cometidas pelos soldados para vendê-las. Consegue um vídeo que mostra dois soldados matando uma mulher a facadas, mas acaba tendo o vídeo confiscado numa blitz. Svoray termina as buscas sem ter em mãos uma cópia sequer de um filme snuff – ou seja, apesar das histórias, ele nunca termina com uma prova real daquilo que está contando. “Gods of Death” também está esgotado.
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